quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ensaio do limbo

Os dias andam quentes
E a gente não percebe o drama
Letras que saltitam abafantes,
...Vira a página e se descobre anagrama.


(O modo direto está de caso com a ritalina
E a repetição do dolo é quase eterna
As ideias no limbo da paralisia
O que sentimos é um simples prurido na perna.)


Mas os dias gritam do inferno
E a água do copo acabou em migração
Lá de longe avistamos o meigo inverno
Sonhamos com a adaptação. 


(O murmuro do barro incomoda a raiz
Espirram os dentes na palma da língua
O choque do braço com a porta ambígua
Causa, dos defeitos, chegamos na matriz.)


E tem dias que a gente se descobre sem gosto
Menos inteligente, menos sem sim e não
É a mesma cara de quem precisa pagar imposto
...Respingo de suor na sedenta imensidão.

5 comentários:

  1. É por isso que gosto do que leio aqui: pq tem força e faz pensar!

    Muito bom, Letícia!
    Adorei!

    Beijo

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  2. Sempre muito crítica. Nas palavras, no rítmo e na forma, sobretudo na contenção dos parênteses, que sugere alguém que está entre muros, ou preso.

    Você pode notar que estão em uma estrofe sim outra não, como um desabafo que sopra entre lábios apertados.

    A sonoridade da poesia, atribuída pelos "tr""rr"e tantos "R(s)" dão ao todo um ar de nervosismo e instabilidade gerados pela presença crescente dessas vibrantes.

    Enfim, em outras palavras, abaixo a Cerberus! Um Viva para as palavras mágicas, Shazan! Afinal, o limbo não é tão ruim assim, apenas uma pausa premeditada pela cadência das horas.

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  3. Letras com calor e a meiguice do inverno... Letícia, querida, com seu poema, o verão pensará duas vezes antes de ser verão e ansiará pelo inverno. Adorei!

    Beijos, e muito obrigada pelo seu comentário. Desejo a você e linda família muitos e felizes Dias Novos em suas Vidas.

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  4. Tem dias que também me sinto assim, sem saber o que sou e onde anda meu pensamento...
    As idéias fogem, não sabemos o que é sim e o que é não...
    Mas a penunbra passa e voltamos a enxergar o sol tímido no céu invernal..

    Beijos!

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  5. Letícia, tua poesia diz da percepção de quem vê e sente para além das paisagens costumeiras. Esse outro lugar do corpo que, vez em quando, não agüenta mais é o próprio terreno das humanidades: ser inteiro e, ao mesmo tempo, rasurado. Poeta é quem consegue ficar de lá pra' cá, transitar entre a imagem da inteireza e as fissuras que compõem o "quebra-cabeça" e, ainda, transmudar tudo isso em poesia. È o que você faz e eu tenho o contentamento em tê-la encontrado.
    bjs

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