segunda-feira, 27 de setembro de 2010

32.





Das trevas conheço
O silêncio roubado pela língua...
A poesia feita ao avesso
A palavra abandonada à míngua.

(Defendo a lentidão da informação
A beira do ataque de nervos
Leva anzol com minhoca e mata a ação
Enforca a vontade com teus medos)

Se eu soubesse dos abismos
Criaria uma enorme fresta
Curaria as palavras e seus paroxismos
Chutando bola de alfabeto na floresta.

(Porque só sei que me contaram do barulho
Não ouvi, nem li a reclamação dos batimentos
Devagar em lenta curva traduzi algum sussurro
Fiz bolinha de papel com a escritura, transformei em alimento)

Das formas me falaram a metade
 - Nego a informação do círculo -
Das flores sinto cheiro como em braille
É necessário ter 9 sentidos para alcançar o infinito.

(E se tu pensavas que eu entendia pensamento
Ficou verde esperando a tradução
De lembrança só conheço meu silêncio
Que eu entorno assobiando nossa canção.)

Eu entendo da maldade das formigas
Andando em fila carregando os pedaços
É do inferno a tradução de suas cantigas
São tão maldosas que não usam nem sapatos.

(E a destruição que conheço é lenta
Palavras perdidas arcaizadas nos punhos
Letras mergulhadas no fogo da pimenta
Cartas inteiras abandonadas em rascunhos)


*Crédito da imagem: David Nobrega

5 comentários:

  1. Nem sabia que tu tinha um blog guriazinha, adorei!!!Já tô seguindo, amei a poesia!

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  2. Eu adoro como tu trabalhas o metapoema, a palavra falando de si e ainda assim permite o caminhar das formigas, o cheiro sentido por sentidos alheios... Diante do poder dos versos, do que será capaz a visão?

    Do rascunho à tela, meus aplausos, sempre, Letícia!

    Beijos!

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  3. Que dizer Letícia desta poesia tão acutilante mas ao mesmo tempo amorosa.Poesia com essência.
    Parabéns!

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  4. Caminhei pelas ruas da tua poesia, vi formigas vestidas de militares. Suas esquinas subjetivas são sentidos infinitos, seu fogo apimentado, frestas, traduções em cantigas de silêncio. Letícia, como é belo! Bela poesia.

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  5. O teu jeito de se expressar é único, descreve as sensações tão lindamente que se nos entregarmos a leitura, podemos passear por entre as letras...

    Beijo!

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