domingo, 9 de janeiro de 2011

E quando...

E quando se quer tanto,
Se engessa o pranto
Vive-se aparando...As arestas, infestadas
Do chamado anjo.

 -- Mas tem um brilho de crueldade
A espera do encanto
Tem um canto de morbidez, o soluço
De quem apregoa o tango. --

E quando se pensa um tamanho
Sugerimos o inverso do verso
É como jogar ácido no sorriso
Marcar com fogo a lapela do terno.

-- E se fosse tão lindo morrer
A vida teria outro nome
Já não nos basta o tempo correr?
É necessário que os minutos criem um codinome. --

E quando se pensa nas disputas
Surgem gritos de guerra, sem eira nem beira
Ofereço os braços, que sem dó, tu amputas
Contradição...Tudo é eterna doideira.

-- Porque tem o suspiro da tragédia
O apelo no estágio alfa do drama
Não nos interessa, a gargalhada da comédia
Todos os personagens se rendem para o coma da trama. --

E quando se para... Só para-o-discurso
É possível olhar para o céu
Poeta que se rende ao belo do feio
Consegue fazer voar, barco de papel.

8 comentários:

  1. Belo!
    O que mais gostei foram os versos
    "E se fosse tão lindo morrer
    A vida teria outro nome". :)
    Abraço

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  2. Letícia, esse, sem dúvida, é um dos mais belos posts que já li aqui. E olha que eu adoro lê-la...


    A alegria da dor, a beleza do feio, o ódio do amor. Paradoxos vitais que traduzes lindamente em palavras.

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  3. Teu poema conduz à fatídica reflexão de que tudo na vida é indissociável do seu oposto.
    Aquilo que não se quer,
    o que não se pretende,
    é requisito necessário para a o desejo que pulsa
    se tornar rela cotidiano.

    É feito sorriso que pra florescer, necessita da água do pranto.

    E assim, barcos a voar,
    gaivotas a mergulhar -
    - é vontade a imperar!

    Fã que sou, só posso me fazer repetitiva e carimbar:
    adorei! adorei! adorei!

    Beijos, querida!

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  4. "É necessário que os minutos criem um codinome".

    O mistério do tempo, em um único verso...

    E, a gente só resta se calar diante de um poema como esse. =D

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  5. E é assim que a gente reconhece um poeta: qdo ele não separa o belo do feio, pq seus olhos são outros. E precisam ser. Pq há quem os procura pq querem abrigo, pq precisam de um lugar onde se encaixem.

    Onde possam nadar no céu. Voar no mar.

    Aqui, eles encontraram seu barco alado. Com palavras salvadoras.

    A-D-O-R-E-I

    Beijo!

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  6. adorei, Le!
    adorei isso do poeta se render ao belo do feio...
    me fez tanto sentido!

    um bjo,

    Talita
    História da minha alma

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  7. Letícia, amei seu poema! Em especial os versos

    << -- Mas tem um brilho de crueldade
    A espera do encanto>>

    disse bastante de mim, pra mim. :)

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