segunda-feira, 13 de setembro de 2010

24. (redondo)

Ah, que eu deveria ser transparente

Para quem sabe a treva abortar

Viver no chão de linhas lunaticamente

Fazer ideias jorrarem, descongestionar.



( Concedo o benefício das vertentes do telhado

Escoando a parte desinteressante da rima

Guardando em caixas partes do lobo umbilicado

Pousar o dedo no lápis conforme a esgrima. )



Eu poderia ser mais libertadora de cores

E em um simples compasso ver cinco luas andantes

Mudar alguns móveis para desfazer o cômodo dos horrores

Pintar com guache as pontas dos meus pisantes.



( Autorizo a tortura do pensamento distante

Andarilho do acordo ufanista do próprio quintal

A língua da cobra de fogo é assaltante

Proteja-se com flores ovais, são antinfernais)



Ah, mas eu poderia ser mais pulsante

Embalos de felicidade abdominais

Porém vejo beleza nos silêncios agonizantes

Eis os monstros das teias saturnais.



( Abro o portão para o descabimento em coro

Que o igual-ao mesmo-do tudo-da série-em lata faça discurso

As borboletas serão julgadas por falta de decoro

Abriremos outra estrada, mas não desviaremos do percurso. )

6 comentários:

  1. Sempre se pode ter um jeito diferente de se chegar, mas o importante é nunca mudar o destino...

    Lindo!

    beijos

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  2. Poxa, Letícia... parece um quadro:
    traçosbiscos precisos,
    cores decisivas e um caminho definido,
    de quem sabe o que quer
    e não se abate fácil.
    Se há tremor nas linhas, Há certeza nos versos.

    A-do-rei!

    Beijos, querida!

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  3. Bravo! Já no primeiro verso eu quis ser 'transparente para a treva abortar'. E me identifico no 'vejo beleza nos silêncios agonizantes'. E nesse mundo soturno que me rodeia, realmente 'as borboletas serão julgadas por falta de decoro'. Caramba, seus versos falaram alto pra mim hoje. Tô numa fase de reflexões e a frase final vem a calhar, me ajudou a definir o que fazer: vou abrir outra estrada, mas não desviarei do percurso...
    O que seria da vida sem poesia? O nada. Valeu!
    Beijos,

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  4. "Ah, que eu deveria ser transparente
    Ah, mas eu poderia ser mais pulsante"

    Mais transparente, mais pulsante? E tem como?? Você já é, escreve com sabedoria, porém é delicada, escreve com autoridade mais intimida..isso é poesia de verdade moça....e eu gosto muito, beijão

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  5. Me identifiquei com seus versos Lelê.
    Big Beijos

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